Olá, caros amigos!!!
Um dos mais ferrenhos embates travados dentro
da área da Psicologia é aquele que diz respeito à questão se o ser humano é
determinado por sua genética, suas características hereditárias, sendo,
portanto, suas ideias e comportamentos inatos; ou se ele, ao contrário, é o
produto do meio em que vive, sua aprendizagem sendo resultado de suas
experiências.
A primeira submatriz, o
nativismo, segue uma tradição racionalista iniciada com Descartes; já a
segunda, o ambientalismo, segue o pensamento do empirismo de Locke. Estas
abordagens se revezaram no domínio do pensamento filosófico e psicológico dos
últimos séculos, influenciando diretamente o modo como se entendia o
comportamento, a aprendizagem, a inteligência e também os campos político
e ideológico.
Na tentativa de superar
esta dicotomia organismo versus ambiente, alguns autores propuseram uma terceira
posição, o interacionismo, que compreende o sujeito sendo formado tanto por
suas experiências quanto por sua constituição genética.
Neste primeiro momento
nos deteremos, a fim de facilitar a compreensão de todos, no ambientalismo.
O Ambientalismo Psicológico
O Ambientalismo Psicológico
O ambientalismo surgiu
a partir da tradição do empirismo, corrente filosófica que afirma que a única
forma de conhecimento se dá através dos sentidos. No século XIX, o
ambientalismo se apoia no estudo das experiências sensoriais, como aqueles
realizados por Helmholtz (1821-1894) nos campos da psicofísica e da
psicofisiologia. Para ele, apenas as qualidades das sensações podem ser
consideradas como a sensação pura e real; não obstante, a percepção dos
objetos, assim como a grande maioria das percepções de espaço, seria uma
capacidade aprendida, produto da experiência e treinamento.
Assim, por exemplo,
nossa percepção dos objetos como um só e mesmo objeto é resultado do hábito de
lidar com os objetos a partir de diferentes pontos de vista. Isso se dá porque
há uma conclusão inconsciente, o que quer dizer que há uma compensação das
deformações impostas pela percepção, garantindo a constância da forma.
Estes efeitos do hábito
e também da memória se dão a partir de processos inconscientes e automáticos que
dão às sensações puras denominadas por Helmholtz estrutura que não pode ser
atribuída unicamente ao fenômeno sensorial.
Outro ponto da
aprendizagem perceptual é a seleção de elementos sensoriais relevantes para a
composição de imagem perceptiva de um objeto. Tal seleção obedece ao critério
da conveniência que, com o hábito, tem a tendência de ignorar as partes sem
importância para um objeto.
A partir do século XX a
aprendizagem deixa de ser um fenômeno meramente explicativo de outros fenômenos e passa a ser o objeto de estudos e pesquisas, como vemos
nas obras de Ebbinghaus (1850-1909) e Thorndike (1874-1949). Nesse período
também acontece a ascensão do Behaviorismo, que fez com que a psicologia da
aprendizagem recebesse um enfoque maior que qualquer outro tema; isto propiciou
um avanço gigantesco ao ambientalismo e uma consequente diminuição na
importância dada ao organismo. Foi dada uma especial ênfase ao controle do
ambiente sobre o sujeito, o que resultou em uma dura crítica ao conceito de
instinto e, ao mesmo tempo, em uma negação, da capacidade de agir do indivíduo.
Deste modo, o sujeito passou a ser visto apenas como um reagente, sem
autorregulação e espontaneidade.
Com Skinner (1904-1990)
vemos um Behaviorismo e ambientalismo radicais, ao postular uma
equipotencialidade entre estímulos e respostas (ou seja, mesma capacidade de um
eliciar resposta no outro). Deixa bem claro que a experiência e, mais especificamente,
as contingências do ambiente, seriam os únicos determinantes da estrutura
comportamental.
Apesar de para Skinner
a maior parte dos reforços para o homem serem reforços condicionados
determinados cultural e historicamente, o que está na base da estrutura do
comportamento são as condutas adaptativas, aprendidas em contato com os
reforços. Tais condutas formam classes funcionais de respostas operantes
surgidas no decorrer da história do sujeito. Não existiriam, então, classes
estruturais, pré-formadas, inatas, puramente biológicas e hereditárias que
interfeririam na formação da conduta adaptativa, só sendo aceitável pensar
nelas em termos de respostas reflexas.
Enfim, o que se vê no
ambientalismo é uma forte sobrevalorização da plasticidade comportamental,
expressa no pensamento de que tudo pode ser aprendido; ao mesmo tempo, nega
motivação, pró-ação, intencionalidade, etc.
Apesar de sua grande popularidade e aceitação, o ambientalismo sozinho não é capaz de explicar toda a complexidade humana, como ainda veremos.
O Nativismo Psicológico
Apesar de sua grande popularidade e aceitação, o ambientalismo sozinho não é capaz de explicar toda a complexidade humana, como ainda veremos.
O Nativismo Psicológico
Já
no nativismo, autores como Muller e Hering, no século XIX, se destacam em relação à psicofisiologia. Muller postulou que há uma qualificação dos fenômenos
sensoriais ao acionamento interno ou externo das energias específicas dos
nervos e que a sensação é determinada fundamentalmente pelo que há de
específico em cada via sensorial. Hering
afirmou que toda percepção externa se organiza de acordo com as dimensões de
especialidade sendo determinadas pela estrutura do aparato visual. No século XX Jacob Von Uexkull estudou o
comportamento de diferentes espécies animais e percebeu que a explicação dos comportamentos dependia do
conhecimento da natureza do mundo de cada espécie.
Em
relação às críticas voltadas ao instinto, em uma época voltada para a cultura empirista, Mc Dougall postulou uma lista de 13 instintos gerais, incluindo comportamentos
sociais do homem e foi bastante criticado pelo seu excessivo institivismo e
mentalismo. Já Lorenz retornou com esse mesmo conceito, no entanto, livre do
mentalismo e postulou que existe tanto elos instintivos inatos quanto adquiridos
individualmente, e que no homem o componente inato se retrai mas não é jamais
eliminado. Além disso, Lorenz realizou um experimento chamado privação de
filhotes, que consistia em pegar um filhote e criá-lo longe do convívio com os outros
animais de sua espécie e em condições
ambientais inadequadas para a exibição e treino de comportamento adaptativos
mais típicos. E quando adulto seu comportamento será observado e será visto o
que é hereditário e o que não é.
O
estudo da hereditariedade foi crescendo e de Galton pra cá surgiram várias pesquisas,
dentre elas a de Eysenck, onde foram feitos estudos psicométricos para concluir
que há determinantes genéticos na capacidade intelectual.
E
por fim, Chomsky, situa-se na tradição linguística racionalista cartesiana e
do pensamento romântico organicista, onde ele postula que o aspecto criativo do
uso da linguagem, a fala, não está
determinada pela associação fixa de palavras a estímulos externos ou a estados
fisiológicos. O homem é capaz de emitir livremente frases nunca antes ditas e
interpretar sem dificuldades enunciados absolutamente originais.
Os Interacionistas
Segundo os
interacionistas o organismo é adaptado ao seu ambiente, e o ambiente ao
organismo de forma a manter a vida. O ambiente é assim expresso na estrutura de
cada parte do organismo e vice-versa. Ou seja, segundo os interacionistas não se pode separar a estrutura orgânica da estrutura ambiental, elas não funcionam
isoladas, mas estão em mútua coordenação.
Os próprios conceitos
de “organismo” e “ambiente” não se podem definir senão em termos de interdependência.
É natural então que exista uma terceira força que engloba o ambientalismo e o
nativismo. Dentre os autores cujas obras dão ênfase ao interacionismo temos:
Baldwin, Lloyd Morgan e Poulton, cujas obras estão associadas à ênfase nas
interações reciprocamente determinantes entre ambiente e organismo e entre a
história do individuo e a história da espécie.
Alguns
autores se colocaram a favor do Interacionismo. Piaget expressa em parte de sua
obra a relação entre o organismo e o meio e como eles se determinam mutuamente.
Ele afirma que as reações do organismo são resultado do desenvolvimento dos
processos cognitivos, afetivos e motivacionais. Pra Freud, o desenvolvimento
individual retrata a luta entre o natural e as possibilidades ofertadas pelo
ambiente físico e social à atualização da natureza.
F.
A. Beach relatou a tese de que tanto o comportamento aprendido como o que não é
aprendido estão sob controle genético. M. Seligman propôs que há vários graus
de facilidade na aprendizagem. Estes graus são distribuídos entre as espécies
de forma que não se pode afirmar que uma espécie é mais ou menos inteligente que
a outra, pois há relações fáceis de aprender para algumas espécies e difíceis
para outras. Lorenz afirma que o significado que a relevância que a experiência
tem como produtora de aprendizagem é definido pela carga genética.
Atualmente,
o interacionismo inclina-se a ser o ponto de vista predominante, refutando o
nativismo e o ambientalismo radical.
Raízes socioculturais - Um breve resumo
O apogeu do empirismo epistemológico está associado
à luta antidogmática da nova ciência e a luta contra a autoridade não
legitimada pela razão e pelo consenso. A experiência é o tribunal e o discernimento, o
juiz. O sujeito se torna independente de toda sujeição e de toda tradição.
O Ambientalismo
- o ambiente exercia um poder absoluto de criar e
modelar o organismo;
- união de traços progressistas e conservadores;
- todos são iguais e todos podem aprender;
- passa a responsabilizar o meio por alguns adventos
antes associados ao indivíduo;
- legitima o poder monopolizado;
- legitima a tecnoburocracia e a planificação
autoritária;
- legitima a tecnoburocracia e a planificação
autoritária.
O Nativismo
- coloca o transcendentral como inato;
- o sujeito atrela a si o objeto retirando-lhe toda
existência autônoma;
- o sujeito se constitui como expressão de uma
vontade;
- enfatiza a relatividade do conhecimento.
Interacionismo
- Para Piaget: o organismo se propõe no controle do
conceito de moral autônoma.
- Para Freud: corresponde à plena realização do
ideal funcionalista liberal.
REFERÊNCIAS:
FIGUEIREDO, Luis Cláudio M. Matrizes do Pensamento Psicológico. Editora Vozes, 15ª edição. 2008.